domingo, 1 de abril de 2012

ALÔ VOVÓ...

             ALÔ VOVÓ...



                                  Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas

                   

            A moça ao celular falava com toda a naturalidade, sentada numa poltrona dentro do ônibus lotado, à noitinha, alheia totalmente à quantidade de passageiros que atentamente ouvia a conversa.

            - Vó, sabe a calcinha, aquela que você me deu... estou usando... você não tem noção de como é confortável! Fabiana disse que é coisa de vó.

            - estou Vó indo para casa, cansadíssima. Pela manhã dei aula e à tarde tive aulas na faculdade. Está um sufoco.

            E assim, seguiam todos ouvindo aquela moça conversando com sua vovó, durante um bom tempo, no trajeto daquela condução, se dirigindo do centro para o bairro.

            Uma senhora idosa, ouvindo aquela conversa tão espontânea fazia cada expressão facial, ora de riso, ora de assombro entremeado com uma fisionomia de susto.

            Alguns sorriam. Outros fingiam que não estavam ouvindo, mas era quase impossível, porque a menina se expressava num tom bem alto, talvez porque imaginava que a vovó, no outro lado da linha, não a estivesse ouvindo muito bem.

            Despediu-se da vó e fez, em seguida, outra ligação, agora, para a amiga íntima. Aquela que é companheira das confidências.

            - querida, não acredito! Como ele pôde? É um mentiroso. Não te respeita. Você acreditou no que ele disse?

            - amiga todos são assim. Não se preocupe, o tempo dirá o que você tem que fazer.     

            Alguns passageiros não se continham e até se inclinavam para a frente, a fim de ouvir melhor. Outros, pelas expressões do rosto, demonstravam que não estavam entendendo bem o que acontecia.

            Finalmente, a garota deu o sinal e desceu com o celular ao ouvido e o que se passava do outro lado da linha ficou na imaginação dos ouvintes curiosos.

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